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Meditação

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Mensagem por Nauta Qui Out 15, 2015 12:32 am

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Um Problema

Por ser uma das práticas mais populares e básicas relacionadas à busca espiritual, a meditação foi uma das minhas primeiras experiências no campo. O interesse existia menos pela sua ligação com tradições religiosas e muito mais pela promessa de melhorar minha capacidade de concentração e percepção.
Uma grande dificuldade logo quando comecei a pesquisar foi encontrar conciliação entre os diferentes métodos e definições de meditação. Uma fonte me dizia que era necessário apenas repetir algumas palavras como uma oração, outra que devia calar a mente de qualquer maneira, uma terceira que eu devia dar livre curso ao constante fluxo de pensamentos, e cada uma alegava ser o método verdadeiro. Numa pratica em que é necessário ter perseverança e paciência para dominar e que é anunciada como um meio de atingir um estado de profunda tranquilidade, as primeiras tentativas, especialmente as não guiadas, podem ser profundamente frustrantes e angustiantes, com o aprendiz simplesmente confuso e se sentindo incapaz por não conseguir relaxar.
Eu não fui o único a ter essa experiência, para falar a verdade os amigos que comentaram comigo de suas tentativas tiveram esse tipo de dificuldade por bastante tempo. Este post, inclusive, nasceu de uma conversa com uma amiga que me contou que, por alguns anos, iniciou e abandonou a prática da meditação diversas vezes por sempre se sentir desconfortável fisicamente e incerta quanto ao foco mental. Tentei esclarecê-la da melhor forma possível baseado na minha experiência que envolveu uma boa dose de tentativa e erro e que foi autoconstruída. Não sigo nenhuma tradição que faça uso da meditação, não sigo nenhum método especifico conhecido, simplesmente adaptei o que me pareceu ser o conceito da pratica com as minhas possibilidades e é isso que vou apresentar aqui: a minha visão das coisas. Deixo minha experiência pessoal e espero aprender também de quem conhecer mais profundamente sobre assunto pelo qual sou apaixonado.



O que é Meditação

Na maior parte do tempo a gente não percebe, mas a nossa mente é extremamente barulhenta. Entre um pensamento consciente e outro, lá estamos pensando nas coisas mais aleatórias possíveis com um foco tão fraco que, quando outra coisa chama nossa atenção, não conseguimos sequer lembrar o que estávamos imaginando no segundo anterior. Quando tentamos silenciar a mente percebemos que existe um barulho de fundo impossível de conter, um fluxo de onde saltam imagens e sons aos quais nos agarramos, alimentamos e com os quais criamos os devaneios. E quem de nós pode dizer que não fica, com uma certa frequência, com uma música tocando repetidamente no fundo da mente?
A realização da impossibilidade de aquietar a mente vem com uma certa surpresa para a maioria das pessoas. Nós temos foco o suficiente pare executarmos nossas tarefas e o treinamos especialmente para algumas situações mais complexas, como realizar operações matemáticas ou tocar um instrumento musical, mas o treinamento geralmente nos ensina apenas a direcionar o fluxo dos pensamentos e não a controla-lo. Assim, quando vamos aprender uma tarefa nova, começamos com dificuldade com reações rápidas (ou nem tanto) e em controlar os elementos dessa tarefa simultaneamente, seguimos para um controle básico dos mecanismos exigidos com um leve prazer em acertar e executar uma atividade mental, até que, por fim, nos acostumamos e acomodamos, executado a tarefa automaticamente, quase inconscientemente, enquanto ponderamos sobre a morte da bezerra.
E o que tem isso tudo com meditação? Bem, de um ponto de vista mais espiritualista, a meditação é uma pratica baseada no uso consciente de recursos mentais para atingir um nível cada vez mais apurado de consciência, chegar perto da verdadeira identidade do ser, se identificar cada vez mais com ela e menos com os corpos que essa consciência assume. De um ponto de vista mais materialista, é alguma técnica que ajude a controlar o corpo, os pensamentos e os sentimentos. Não são duas coisas realmente diferentes, a quem presta atenção, só pontos de vista diferentes.



Muitas Possibilidades

Existem muitos métodos e ferramentas para a meditação, a escolha e execução da cada um vai depender de alguns fatores como o seu propósito, a tradição que segue, suas possibilidades físicas e capacidade de concentração/percepção. Não existe apenas um caminho, nada é único e fechado e, se o corpo físico te permite diversas possibilidades de interação com o mundo palpável, imagine então as possibilidades de uma mente treinada. Pense por exemplo na habilidade criativa da mente, a imaginação, que vai muito além das nossas leis físicas. A habilidade analítica e investigadora.  A capacidade receptiva de percepção de estímulos e processamento de suas informações. A mente é um campo gigantesco e as diferentes técnicas de meditação buscam treinar isso de diferentes maneiras, então não se assuste em não encontrar apenas um meio para a iluminação final de Buda, lembre-se da sua humanidade.
De todas as possibilidades, eu gosto particularmente das divisões feitas sobre a meditação budista. Nas diferentes escolas budistas, as técnicas podem ser divididas em dois grandes grupos: Samatha e Vipassana. O primeiro voltado para exercícios para fortalecer a concentração e o foco, criar uma mente forte capaz de sustentar a atenção em um objeto por longos períodos tranquilamente. O segundo voltado à investigação do ser, das ilusões e da verdade, dos cinco “skandhas”: apego à forma física (rūpa), sensações ou sentimentos (vedanā), percepção (saṃjñā), formações mentais (saṃskāra) e consciência (vijñāna).
Nos Yoga Sutra de Patañjali, existem os oito passos, ou oito caminhos da Yoga, os quais os três últimos são o “Dharana”, baseado em voltar a atenção a um objeto (uma mandala, um matra, a respiração...) e sustenta-la; a “Dhyana”, onde a concentração volta-se para o próprio praticante; e finalmente o “Samadhi”, a meditação plena, o controle completo das funções da consciência (que ainda não é o Nirvana, o estágio final além do corpo e da mente).
Acredito que, com estas divisões, fique mais fácil entender o que esperar dos diferentes métodos usados para a meditação sem ficar desnorteado pensando se sua técnica é a mais adequada. Uma divisão da meditação não exclui a outra, são apenas focos diferentes dentro do exercício proposto. A Samatha, por exemplo, é geralmente usada em preparação para a Vipassana. Alguns consideram que a diferença entre Dharana, Dhyana e Samadi seja o nível de concentração atingido pelo praticante.
De maneira geral, entende-se que os passos sequenciais da meditação plena são, a grosso modo, a concentração em um foco, a aquietação dos processos da mente e a investigação da consciência por si mesma.



Um Método

Como disse no começo, não sigo nenhuma tradição especifica, apenas exercito minha mente de acordo com o que compreendo serem os estágios de meditação. O que coloco a seguir são um exercício básico de respiração e a minha maneira de silenciar e investigar a mente.

Parte1:

• Sente-se ou deite-se confortavelmente com em uma posição que permita que sua coluna vertebral fique reta sem desconforto. Se ficar sentado pode ser com as pernas cruzadas ou em uma cadeira com os pés no chão e, se possível, tente manter as costas eretas sem apoio. O mais importante é estar confortável, pois precisará manter o corpo imóvel por algum tempo e com a coluna reta para evitar lesões e permitir um bom fluxo de energias.
• Concentre-se em relaxar sua musculatura. Pode fazer isso em seções começando pelas pernas, depois tronco, braços, pescoço e rosto.
• Concentre-se em sua respiração. Observe o movimento que sua barriga faz subindo e descendo (reaprender respiração diafragmática é importante). Sinta o próprio impulso de puxar o ar e relaxar para soltá-lo, faça isso conscientemente. Sinta o caminho que o ar percorre entrando pelo nariz, preenchendo seus pulmões, e depois voltando.
• Mantenha a concentração ativa na respiração de maneira relaxada, não forçando ou retendo o ar, mas fazendo o possível para perceber o processo e não realiza-lo de maneira automática.
• Aqui você pode escolher um objeto de concentração dentro da respiração. Pode manter o foco apenas no processo normal ou tentar alguma coisa diferente, o que acredito que ajuda um pouco mais a “lembrar de concentrar”. Você pode respirar por etapas, fazendo o ar preencher primeiro a parte baixa dos pulmões, depois o centro e por fim o peito, é o que eu faço, um exercício básico de respiração, mas que pode ser desconfortável no início. Pode também criar ciclos, contando 10 respirações e reiniciando.
• Se algum pensamento surgir e te distrair, afaste-o delicadamente, sem bloquear forçosamente, e reinicie seu processo de concentração, mantendo-o pelo maior período de tempo possível.

Inicialmente, faça este exercício por curtos períodos de tempo. Dez minutos por dia podem ser um bom período inicial com um aumento gradativo à medida em que for se acostumando com o processo e conseguindo períodos mais prolongados de concentração. Procure ter regularidade em sua execução, repetindo-o sempre no mesmo horário, se possível mesmo local, mesmo que não faça todos os dias. Se perder um dia de meditação, não tente compensar no seguinte, apenas relaxe e siga sua prática. Não desanime no começo, as primeiras tentativas podem ser muito irritantes, o fluxo constante de pensamentos é forte e a mente geralmente fraca para resistir.
Esta é uma boa prática, era o que eu encontrava, ou alguma variação dele, quando procurava por exercícios de concentração relacionados a meditação. Meu problema com isso era a imensa irritação que o exercício me causava pois não conseguia de maneira nenhuma manter a concentração por muito tempo. No primeiro ciclo de respiração, contava até dez, no segundo chegava até oito, no quarto ou quinto eu já tinha esquecido o que estava fazendo, completamente entretido em um devaneio e, quando me percebia assim, sentia uma profunda frustração. Pesquisei por mais algum tempo, desisti algumas vezes, até que, em um site sobre meditação transcendental, encontrei meu pulo do gato, a coisa mais simples e que é a verdadeira base do exercício para a qual eu não tinha atentado.
O texto colocava a mente como uma entidade dividida em que uma parte era criadora de pensamentos, ativa, discursiva, imaginativa... essa é a parte da qual nós perdemos o controle pela falta de exercício, que produz a constante torrente de ruído mental. A outra parte era chamada de “O Observador”, a parte que “vê” os processos da mente ativa. Ora, se nós sabemos que pensamos é por que conseguimos observar os pensamentos. O Observador é o canto quieto da sua mente de onde você enxerga todo o resto, e é na posição de observador que você deve se colocar para realizar o verdadeiro exercício da meditação pois ele é em si a mente quieta e o que procuramos é a quietude.
Foi a compreensão do observador que me fez finalmente entender o que precisava para meditar e acabou com meu desespero e frustração. Hoje, já com novas experiências, acho que posso enquadrar com segurança esta ideia nas Leis Herméticas da polaridade e do gênero. Se nós estamos no polo do barulho e do descontrole, não queremos focar nisso, tentar impedir e forçar que se aquiete, pois isso é dar força ao processo. Devemos, em lugar disso, focar no outro polo, o da quietude, e alimentá-lo até que se torne o padrão. Quanto ao gênero, se observarmos bem, a parte realmente ativa da mente é o Observador. Quando nos concentramos na respiração é ele quem observa o fluxo do ar, e quando inspiramos e expiramos conscientemente é através dele, que percebe o que acontece, que ativamos os mecanismos necessários. A mente barulhenta é, na verdade, passiva pois recebe os inputs da consciência ou do ambiente e os converte nas imagens, sons ou sensações que compreendemos, ela dá vida ao que o Observador sugere. A educação da porção da mente que negligenciamos, seu controle para que ela responda prontamente e de maneira precisa aos estímulos do Observador, é um dos objetivos primordiais da meditação, pois é da junção dos dois que podemos efetivamente criar.

Pois bem, vamos à parte 2:

• Quando já estiver conseguindo manter a concentração por um período que acreditar ser razoável, volte sua atenção para o observador e, através dele, continue o exercício anterior, com calma e paciência, mantendo a serenidade mental.
• Continue observando sua respiração por um tempo mais prolongando, tendo a calma do observador, sem se importar com o fluxo dos pensamentos até que perceba que as distrações surgem e até chamam sua atenção, mas ao mesmo tempo a concentração não é perdida, talvez apenas enfraquecida.
• Quando conseguir o nível acima e estiver em um “pico” de concentração, uma trégua do fluxo, volte sua atenção para si mesmo e, através do Observador, para o fluxo. Não se envolva com o fluxo, apenas observe. Quando um pensamento surgir, não se apavore ou bloqueie, domine o reflexo de bloquear. Contemple o pensamento e percebe como ele se liga à sua consciência e como ele se alimenta da sua atenção, do seu envolvimento com ele. Pensamentos se alimentam da sua consciência, da maneira como você se envolve com ele, então gentilmente e de maneira impessoal diminuía o seu envolvimento com a ideia, diminua o desejo sobre o pensamento e seu do fluxo de importância que sai de você para ele. O pensamento deve se extinguir por si só pela falta de fonte para mantê-lo.
• Quando conseguir fazer o descrito acima com todos ou a maioria dos pensamentos que lhe chegaram, volte a sua atenção ativamente para os processos em execução no fluxo e repita o procedimento de corte da alimentação com cada um deles, desde os pensamentos e ruídos aleatórios, depois os coerentes e encadeados, até os constantes incontroláveis (como aquela musiquinha lá no fundo).

Esta segunda parte não precisa ser realizada até o fim e forçada ao limite, execute o exercício até onde conseguir, se sentir confortável e seu tempo permitir. A meditação é uma pratica que leva tempo, seus efeitos inicias são sentidos rapidamente mas existem muitas coisas para aprender no caminho. Como disse no começo, a mente é um campo vasto e cada coisa tem seu momento, Buda não chegou à iluminação de uma hora para outra. Lembrem que meditar é realmente um exercício mental, que quando exercitamos nosso corpo, se pegamos mais peso do que suportamos, acabamos machucados, assim também a mente deve ser respeitada.



Outros Meios

O exercício descrito acima é apenas o meu, não o único, existem diversas outras formas tradicionais ou liberais, assim como diversas ferramentas.

• Yoga: a pratica que é um tanto quanto moda no ocidente como ginástica é muito mais do que simples exercido físico. Em um de seus caminhos a Yoga usa as “asanas”, posições que expandem a elasticidade, resistência e força físicas como meio de treinar a mente.
• Chi kung: pratica baseada em rotinas de movimentos para melhorar o equilíbrio interno e externo, e normalizar o fluxo de energia vital pelo corpo.
• Mantras: objetos de foco para a meditação, são ótimas ferramentas usadas em diferentes tradições. Geralmente sons, palavras ou frases repetidas diversas vezes com o objetivo de nos conectar com a verdade que representam.
• Meditação Guiada: exercícios de foco, concentração e visualização que, aliadas a técnicas de expansão da consciência, tornam mais fácil a internalização de informações apresentadas durante o processo.


Bem pessoal, esta é a minha exposição do que experimento e entendo por meditação. Um pouco extenso, eu sei, mas achei importante cobrir de uma maneira ao menos um pouco clara o conceito por trás da pratica. Praticar é importante, mas saber o que e para que praticar o é ainda mais.  Abaixo vai um vídeo interessante com mais algumas ideias.



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Mensagem por Malklord Sáb Out 17, 2015 12:55 pm

Faltou o Video,
Mas falando sobre o tema a mente é um instrumento do Ser Eterno que somos,
Não somos a mente, mas sim a consciencia que faz uso da mente (pois ela é um dos corpos do homem), assim como faz do corpo físico.

Mas gostei da explanação e do cuidado em não gerer interpretações duvidosas acerca do tema,

Inclusive estou pensando em criar uma sequencia de práticas para o Grupo de Participantes do ativos do Fórum.

Pois, apesar de muitos já serem experientes, nada melhor que praticar através do trabalho e da conexão com a egrégora.

Enfim,

Parabéns pelo post.

Saudações!
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Mensagem por Neo Sáb Out 17, 2015 6:29 pm

Meu problema nas meditações sempre foi encontrar uma posição confortável, o resto flui muito bem e a utilização de músicas sempre potencializa a concentração, é nessas meditações que tenho um número bem maior de visões. O uso de mantras no meu caso se restringe à meditações unidas a rituais específicos, onde crio o mantra que será usado com o método de sigilação falada.
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Mensagem por Nauta Sáb Out 17, 2015 11:45 pm

O vídeo aparece normalmente para mim, aqui @_@. De qualquer maneira, o mesmo pode ser encontrado no YouTube pelo nome “Para Começar a Meditar”, uma explicação pelo Lama Padma Samten.

Ainda não consigo fazer posição de lótus, aquilo me impressiona enormemente. Coluna reta sem apoio as vezes é difícil também.

De fato, a mente é um veículo da consciência verdadeira, um corpo, digamos. Inclusive, o estado final atingindo por um Buda, o Nirvana, está além da mente. Repito várias vezes que é um exercício mental pois, para mim, é de onde parte o esforço primário da prática. Algumas técnicas se baseiam na concentração e amplificação de emoções e creio que o “Ritual do Globo Azul”, descrito em “O Diário de Um Mago” de Paulo coelho, seja uma delas.

Da prática que coloquei, e ainda sobre a ideia que faço dela, há ainda uma coisa que pode ter ficado “solta” na explicação. O exercício pede que os processos mentais e pensamentos obsessivos sejam silenciados em busca do silencio. Isso é um exercício de anulação pessoal? Não, de jeito nenhum, ele apenas abre espaço entre pensamentos obsessivos e fragmentados, e estímulos que geram impressões falsas.

Vou colocar uma das minhas primeiras praticas aqui, só como ilustração para falar do que aprendi. Hoje eu não faria de novo, prefiro o exercício regulado, a construção do conhecimento... pensar só na chegada faz a gente não perceber o caminho, tropeçar e cair. É mais legal fazer e aprender a cada dia.

Quando eu era mais jovem (não que já seja ancião XD), tive períodos fragmentados de meditação, nunca levando a pratica muito longe. Fazia por algumas semanas, sentia a concentração melhorar, depois me distraia com outras coisas e parava. Não tinha nenhuma experiência mística das que as pessoas relatavam por aí. Um dia, ainda no meio do tédio da adolescência, logo depois de acordar, deitei no sofá da sala, sozinho em casa e disse “vou meditar, só saio daqui quando conseguir alguma coisa, quando minha mente realmente me surpreender”. O exercício seguiu normal, depois bateu o cansaço, a impaciência, mas perseverei. Em alguns momentos manter a concentração era difícil, ela oscilava, tinha picos e quedas e mais de uma vez todo o meu corpo ficou tenso e eu tinha que lembrar de relaxar. A temperatura também variava, se elevava as vezes, o coração acelerava, emoções surgiam... Até que, em algum momento, percebi que meus pensamentos estavam mais leves, mais claros, sem aquele turbilhão. Em seguida senti o corpo relaxar e ficar calmo. Conscientemente fui vendo as últimas cadeias de pensamento sendo interrompidas até sobrar só a música com que estava encafifado. De repente silêncio. E minha consciência subiu um degrau. Não consigo expressar isso de outra maneira senão dizendo que eu “estava na mente”. Nós temos consciência que estamos num corpo, operamos nele, nós identificamos com sua localização, mas naquele momento era diferente, era estar não numa caixa que recebe estímulos sensoriais, mas no campo infinito que usa esses estímulos como representação das suas ideias, da sua verdade.
Foi uma das experiências mais incríveis que eu tive, sem nenhuma dúvida. Durou menos de um minuto, eu diria, pela surpresa não tive como sustentar, mas a noção do tempo que passei assim era diferente. Enfim, olhei o relógio e tinham se passado algumas horas desde o início do exercício. A alegria não por ter conseguido um efeito, mas vinda daquela percepção ficou comigo por um bom tempo. Eu já tinha uma noção apenas intelectual, uma ideia, de que nós não somos o corpo, mas ali eu tive a experiência. E mais, pude perceber, à medida que os pensamentos iam se apagando, que também não era minhas emoções, que elas também eram ferramentas. E que eu tinha muitos padrões de pensamento que eram apenas representações para coisas que estavam por trás deles. Mais tarde, em outras experiências, percebi que aquela era a construção da minha personalidade.
Nada disso é uma autonegação ou anulação. Cada uma dessas coisas é parte de mim, de quem sou hoje, fazem parte da minha construção, mas nada disso é o verdadeiro “eu” e nenhum desses níveis é fixo e insensível à vontade, tudo depende da nossa identificação com eles. Também ali percebi a diferença entre desejo e vontade.
Enfim, aprendi muito com aquela pratica, inclusive que poderia ter tido paciência e perseverado em meus exercícios diários. Os níveis de excitação, calma, relaxamento e foco mental que experimentei são muito mais proveitosos e seguros quando controlados através da pratica, conhecimento e prudência, pois você sabe como navegar em cada parte. Naquele dia o que eu mais tive foi sorte e, mais uma vez, não indico a repetição do processo. Não querendo ser alarmista, mas ir com a cara e a coragem, mesmo numa coisa que parece tão inofensiva quanto a tranquila pratica da meditação, hoje em dia me parece um pouco perigoso, uma situação vulnerável desnecessária que se não trouxer risco real de dano físico/espiritual/mental, pelo menos pode minar a vontade do praticante com possíveis insucessos.

Atingi altos níveis de consciência ou o Nirvana?
Hahahahahaha, não. Siddhartha Gautama passou seis anos aprendendo e treinando, e mais uns 49 dias e noites seguidos meditando sob uma figueira, sem água, comida ou qualquer outra coisa, sendo atacado por todo tido de criatura espiritual para chegar lá... E ele era uma pessoa iluminada. Eu devo ter batido de cara na superfície de algum estado alterado de consciência.

As percepções maravilhosas ficaram comigo para sempre?
Infelizmente não. Ainda estou encarnado no mesmíssimo corpo, com mais ou menos a mesma personalidade, mas buscando sempre o crescimento. Algumas das percepções daquela experiência foram desbotando até se apagarem, mas eu sei que elas existem. Fé, para mim, é a certeza naquilo que já conhecemos e podemos até não lembrar, mas que está lá em algum lugar. O conhecimento, no entanto, ficou, para que eu pudesse buscar com mais segurança o meu caminho.

É só isso que tem de meditação?
Não, como eu disse existem vario meios. A própria meditação é apenas mais um dos caminhos para a verdade. Através das minhas praticas diárias tenho aprendido a conhecer as minhas ferramentas além do corpo e como trabalhar com elas, por isso sou apaixonado pelo assunto. Por exemplo, eu não usava mantras pois, para mim, eles eram distrações, não funcionavam, mas hoje sei como direcionar o foco corretamente com eles. Meditação guiada então, para mim nem era meditação, mas hoje entendo que é preciso abrir a mente para trabalhar em outro nível com elas... foi justamente uma meditação guiada que me deu um dos melhores direcionamentos sobre a vida, o universo e tudo mais.
Finalmente, há algumas semanas estava estudando para uma reunião, realizando algumas práticas com meu altar, preparando um objeto e, através disso, fui sintonizando com a energia da reunião futura. Resolvi visitar um templo na minha cidade e, meditando sobre um problema em frente a esse lugar, percebi uma coisa importante sobre como nos sintonizamos com alguns objetos e lugares. Voltando para casa uma arvore me chamou atenção e resolvi chegar perto. Embaixo daquela arvore, olhando para ela, consegui em segundos atingir o silencio meditativo e “ouvir” a arvore. É como fazer ressonar o seu interior com o do objeto à frente e sincronizar com ele. Chegando em casa eu já sabia como reproduzir o efeito com o altar e o objeto que precisava. Não acredito que estava sozinho embaixo da arvore e que o aprendizado tenha vindo do nada, mas esse é o tipo de coisa que você aprende com a meditação, pois você aprende a lidar com suas ferramentas internas, como manejar o que está dentro, como alinhar as lentes da consciência para que a luz foque onde você precisa.

Enfim, o exercício proposto é de navegação interna, e não simplesmente de desligamento de pensamentos. O que é importante fica.
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Mensagem por Nauta Sex Jan 27, 2017 7:03 am

Um objetivo proposto nos exercícios apresentados neste tópico é o silenciamento da mente, a interrupção do fluxo constante de pensamentos que formam nossa vida mental. E talvez surjam duvidas quanto à necessidade de manter a mente quieta por algum tempo e sobre a necessidade de realmente ter consciência e controle sobre esse fluxo tão natural e aparentemente incontrolável, afinal ele sempre esteve aí e não fez mal a ninguém, certo? Bem, talvez não seja exatamente assim.

O que se busca nesse processo em primeiro lugar não é simplesmente o silencio ou alterar o estado de consciência, esses são apenas efeitos, não coisas verdadeiramente úteis em si. O que se busca é a educação dos corpos, dos veículos de ação do homem, o aprendizado da utilização correta e cuidado com esses veículos, e o desenvolvimento daquele que utiliza esses veículos em sua jornada. Dividindo em três fases, essa educação começa pelo corpo físico, seja com a quietude de uma postura correta, de asanas, dos exercícios da yoga, de rotinas e fluxos de movimentos; passa pelo corpo astral, ou corpo dos desejos, aprendendo sobre e controlando as emoções, percepções e sensações, desejos e paixões; até o corpo mental, direcionando o pensamento, o intelecto, o aprendizado.
Enfim, a meditação não é um simples relaxamento contemplativo e passivo, é uma "atividade" que busca objetivos reais.

Imaginem uma criança que ainda está aprendendo a usar o próprio corpo. Ela se movimenta sem controle ou direção por muito tempo até aprender o que cada parte deste veículo faz, como controlá-lo e especialmente para que. Um recém-nascido não coordena a mão e chega a bater em si mesmo por isso, até que aprende que pode controlá-la e se diverte apenas observando-a, até crescer mais um pouco e passar a usá-la para alcançar objetos.  E apesar de tudo isso ser natural, os movimentos do bebê não são sem consequência, ele modifica o mundo ao redor mesmo sem saber disso no começo e pode ser machucar seriamente em um ambiente com o qual não saiba lidar.

Do mesmo modo os corpos astral e mental se movem, criam seus efeitos e são suscetíveis ao ambiente. O fluxo de pensamentos, "natural e incontrolável", não é sem consequência.

Todo pensamento definido gera dois efeitos, uma vibração e uma forma definida, a forma pensamento:
     

  • O primeiro, uma vibração que, como as ondas sonoras, se dispersam ao redor daquele que a emite, e que vai tão longe e é tão forte quanto mais claro e definido for o pensamento que lhe deu origem. Ao entrar em contato com outros corpos mentais, tendem a influência-los causando neles pensamentos de mesma natureza mas não necessariamente iguais. A suscetibilidade a essa influência depende do quanto o receptor dessa vibração se afiniza com a mesma, do habito que tem em pensar as mesmas coisas e do gosto que tem por elas.
         
  • O segundo, uma forma bem definida no espaço, um veículo, por assim dizer, daquele pensamento que pode inclusive ser percebidas por aqueles que têm vidência desenvolvida em algum nível. Composta por matéria elemental do mundo astral e mental e animados pela força do pensamento e carga emocional a ele aplicados, esse "veículo" pode ter a forma daquilo que pensamos se for um pensamento concreto, sendo de certo modo uma replica do objeto do nosso pensamento criado pela nossa imaginação, ou uma forma abstrata se o pensamento também o for. No segundo caso o aspecto da forma pensamento será determinada pela natureza do pensamento que lhe deu origem. Essas "entidades" tanto existem no espaço como se movem nele, atuando sobre corpos mentais e astrais próximos ou sendo direcionadas a lugares específicos, causando naqueles a quem atinge pensamentos e sentimentos de mesma natureza daquele que lhe deu origem, influenciando todo aquele com quem entrem em contato e se nutrindo da força gerada por seus hospedeiros.


Entendendo esse duplo efeito do pensamento, fica claro que ele não é sem consequência. Considerando que a grande maioria das pessoas não aprende durante a vida a ter controle real sobre os próprios pensamentos e emoções, que só fazem o suficiente para conviver socialmente, entendemos que estamos mergulhados, quase literalmente, em um mar de pensamentos diversos com correntezas sem controle e em direções arbitrarias com forças determinadas "ao acaso". E entendemos que se não conhecemos estes nossos veículos de manifestação e percepção, estamos completamente suscetíveis a essas correntes e somos contribuintes delas. Nosso tão "natural e incontrolável" fluxo de pensamento é de fato nosso, não há motivo para desresponsabilizar-se aqui, mas não é apenas nosso.

Tomar responsabilidade por si mesmo, tirar nossa atividade das mãos do acaso e deixarmos para trás o descontrole infantil através do aprendizado e da prática são objetivos não apenas válidos, são absolutamente necessários. O silenciar da meditativo da mente é apenas um dos passos dessa atividade, necessário para aprendermos o que é "eu" e o que é "não eu", para nos desidentificarmos com aquilo que é veículo e com aquilo que é produto nosso e entender o que essas coisas realmente são: instrumentos de evolução em nossa jornada. Para além disso existe ainda mais a ser acessado com equilíbrio e direcionamento. Existe o uso do pensamento ativo bem formado, da memória, da imaginação, da idealização na meditação. Existem ainda outros exercícios que veremos mais adiante.
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Mensagem por Neo Sex Jan 27, 2017 6:12 pm

Isso explica algumas coisas. Quando estamos em silêncio junto de uma pessoa, e essa pessoa comenta algo que estamos pensando, por exemplo.
Claro que não podemos descartar o fato de que o inconsciente de ambos tenha percebido algum padrão, que fez com que ambos pensasse em um mesmo assunto naquele mesmo momento. Mas devido a algumas experiências creio que as duas coisas ocorram.

Vejo nisso uma ferramenta de conexão e acredito que na conexão entre os seres reside um grande arcano, sendo esse elo a chave para muitos aspectos do nosso desenvolvimento espiritual.

O tópico está cada vez melhor. Parabéns!
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Mensagem por Nauta Sáb Fev 04, 2017 6:15 pm

Muito obrigado, Neo! Smile

Muitas coisas estão em jogo quando se tenta explicar a mente e o comportamento. O inconsciente e sua estrutura de linguagem são, para mim, quase a base de entendimento para a espiritualidade, uma das partes mais importantes. Existe muito sobre o que podemos conversar nesse sentido, fique à vontade para compartilhar ideias.

Para alem deste tópico, outro iniciado por Malklord se aprofunda bem mais nas questões relacionadas ao pensamento e gostaria de deixar aqui pq os dois conversam bem.

Arrow O Pensamento


Última edição por Aarin Federleicht em Sáb maio 20, 2017 4:50 pm, editado 2 vez(es)
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Mensagem por Nauta Sáb Fev 04, 2017 6:19 pm

Sobre a concentração, existem algumas coisas que podem fazer a diferença, algumas informações especialmente. Falei para vocês como o conceito de "observador" foi importante para que eu conseguisse meditar de fato, mas isso pode ainda parecer vago de maneira geral, então quero trazer mais uma possibilidade de entendimento antes de seguir adiante.

Annie Besant em seu O Poder do Pensamento, no capitulo A Concentração, diz o seguinte:

Annie Besant em O Poder do Pensamento escreveu:No princípio da prática da concentração tem-se que lutar com duas dificuldades. Primeira, o desatender às impressões que continuamente se recebem. Tem-se que impedir que o corpo mental responda a esses contatos, que resistir à sua tendência em responder às impressões externas; mas isto requer dirigir-se parcialmente a atenção para essa resistência, e quando se tiver vencido sua tendência em responder, a própria resistência tem de cessar. É necessário o equilíbrio perfeito; nem resistência nem não-resistência, mas uma firme quietude, tão poderosa que as ondas externas não produzam nenhum resultado, nem sequer o resultado secundário de se ter consciência de algo a que se haja de resistir.

Isso se encaixa sim no que falei quanto à lei hermética da polaridade e acredito que pode ser explicada levando em consideração o Comportamentalismo Radical. Falando de uma maneira bastante resumida, o Comportamentalismo Radical, ou Behaviorismo Radical, é uma das diversas linhas teóricas da psicologia, da qual o principal nome é B. F. Skinner e que tem como objeto de estudo, basicamente, o comportamento. Comportamento, nesse caso, definido como uma relação entre um organismo e o ambiente (reproduzindo as palavras de um dos meus professores em um momento de simplificação "comportamento é tudo o que modifica o ambiente"), e o ambiente é aquilo que controla o comportamento do organismo (para que não aconteçam mal-entendidos: não estou falando de um determinismo direto e fechado). O interessante é que o behaviorismo adapta para psicologia a ideia de seleção natural: um comportamento é selecionado e fortalecido pelo ambiente favorável ou não a ele. Alguns dos fenômenos que podem ser observados com relação a essa seleção são:

O reforçamento: quando um comportamento é emitido e a consequência para esse comportamento aumenta a probabilidade de que ele ocorra novamente. Por exemplo: todas as vezes em que eu atinjo uma meta no trabalho ganho uma gratificação (reforçamento positivo, em que se apresenta um estimulo reforçador: a gratificação); todas as vezes que bato uma meta meu chefe para de reclamar (reforçamento negativo pois o comportamento de bater metas ainda é reforçaçdo mas há a retirada de um estimulo aversivo: a reclamação do chefe. Não é o mesmo que punição).

A extinção: quando um comportamento é emitido, mas não há consequência a probabilidade de que ele se repita diminui gradativamente até a possível extinção.

A punição: quando um comportamento é emitido e a consequência é aversiva e suprime esse comportamento. Por exemplo: toda vez que meu cachorro late lhe dou um tapa (punição positiva, em que apresento um estimulo aversivo em resposta a um comportamento); se meu filho tira nota baixa tiro seu vídeo-game (punição negativa, um estimulo é retirado).

Mas de toda essa aula meia boca de behaviorismo, o que se aproveita para a ideia da prática de meditação? Uma coisa interessante de se saber é que, a depender do nível de análise comportamental, o corpo também é ambiente. E se nossos pensamentos são comportamentos eles também estão sujeitos ao reforçamento, à punição e à extinção.

A melhor forma de diminuir a frequência de um comportamento é, ao contrário do que muitos pensam, a extinção, não a punição. Esse é o meio natural de seleção, que gasta menos energia e, mesmo que talvez seja um pouco mais demorado que a punição, esta tem seus efeitos colaterais: quando ela cessa, o comportamento tende a reaparecer e ela pode eliciar outros comportamentos indesejado e as vezes imprevisíveis como sentir-se ansioso, triste ou reagir de forma violenta, entre outras coisas.

Deste modo, me parece, o conselho para a boa concentração que aparece no texto de Annie Besant se justifica: o importante é entender e controlar o ambiente, observando os comportamentos e não reagindo a eles, nem de maneira reforçadora nem punitiva, a fim de não aumentar a frequência dos comportamentos indesejados ou eliciar outros novos. Deste modo, com dedicação e pratica, se consegue treinar a mente para, sob o comando da consciência, obedecer a seu mestre. E isso é válido não apenas para o contexto do exercício local da meditação, mas a própria forma de lidar com as formas pensamento as quais geramos e alimentamos. Podemos com esse conhecimento tanto limpar nosso campo mental e emocional, como preenche-los com o cultivo de formas e vibrações saudáveis e coerentes com nossa busca.

Da próxima posto algumas das indicações do mesmo texto sobre objetos de concentração para além do silêncio e esvaziamento mental. Inté.



P.S.: As informações aqui apresentadas sobre Behaviorismo Radical estão muito resumidas. Existem níveis muito maiores e mais complexos de análise de comportamento e outras coisas a serem observadas nisso tudo. A quem tiver interesse a melhor fonte de estudo é o pioneiro dessa vertente: Skinner. Psicologia é um mundo fantástico de conhecimento.
Nauta
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